Liliane Prata lança livro "Sem Rumo" que aborda universo dos anos 80

A escritora mineira Liliane Prata lança o livro "Sem Rumo", um mergulho no universo dos anos 80.

A trama envolve Fernando, um homem casado, executivo, que vive uma tremenda reviravolta na vida, em pleno anos 1980. Época de extremos como a colorida onda new wave e as sombrias melodias dark e roupas negras; das baladas em danceterias aos inferninhos da Rua Augusta; da esperança na recém-redemocratização do país ao medo de uma doença desconhecida e avassaladora.

Ao ligar o rádio ele ouve Blitz, The Clash, Michael Jackson, Duran Duran, Barão Vermelho. Nas ruas, vê Chevettes, Fiats 147, Voyages. Na revista Manchete, lê reportagens ilustradas. Fernando é funcionário de uma empresa estrangeira recém-instalada no Brasil e fuma livremente no trabalho, nos elevadores, nos restaurantes.

Em casa, tomando cuidado para que Júlia, sua mulher, não descubra, assiste a fitas pornôs no aparelho de videocassete. A liberalidade herdada dos anos 1960 e 1970 facilitou a vida de muita gente, mas logo acontece algo que fará com que as pessoas voltem a se sentir mergulhadas nas trevas da repressão sexual. Certa noite, depois de tomar alguns chopes num barzinho, mete-se numa aventura de consequências imprevisíveis.

Sem rumo faz uma reflexão sobre várias questões, principalmente sobre a do desejo individual amordaçado por esse exterior social que pode ser amedrontador, “e talvez mais amedrontador ainda naquela década”.

Liliane fez uma intensa pesquisa sobre os costumes da época. Como ainda era nova, em 1984, período da trama, ela revisitou velhos equipamentos eletrônicos, assistiu filmes em VHS, ouviu K7s, dançou e cantou as músicas darks e new waves. Leu sobre desquites, casamentos liberais e a mulher buscando seu espaço no trabalho, a dona de casa se tornado independente. Procurou revistas e jornais para ser fiel aos valores das coisas na nossa antiga moeda, o cruzeiro. Era um tempo em que a inflação mudava os preços diariamente.

Viu anúncios de prostitutas, propagandas de refrigerantes e de lojas de departamentos como Sears, Mesbla e Mappin. A Boca do Lixo de São Paulo (região que concentra parte da prostituição paulistana) é retratada de forma dura e sincera. Liliane imprimiu um olhar limpo de qualquer saudosismo ou preconceito e captou o comportamento dos homens frequentadores de inferninhos e afins.

Na metade dos anos 1980 não era só a Aids que atormentava a vida das pessoas, o pseudo liberalismo mascarava os desejos enrustidos em cada um, afrontando e enlouquecendo a cabeça de quem queria se libertar, mas ainda estava aprisionado aos conceitos conservadores. "O Fernando vive o tempo todo no piloto automático, fazendo as coisas sem pensar, evitando ao máximo despertar seus pensamentos e anseios adormecidos. Ele sufoca seus sonhos para viver o que a sociedade determina como sendo um comportamento correto. Com isso, vive numa neurose social, um constante confronto entre o desejo e os dogmas daquela época". explica a escritora.
 
 
Sem rumo  de Liliane Prata
Editora Planeta do Brasil
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