Deleto meu perfil no facebook? Ou não?



Quem diria que, um dia, isso seria um dilema para uma pessoa. Tal qual a dúvida entre ser ou não ser, de Willian Shakespeare. Como deixei chegar a esse ponto?

Fiz essa pergunta aos “amigos” do face e alguns me disseram que eu teria muito a perder saindo da rede social, como os contatos profissionais. Outros me falaram que já tinham feito isso e que seria uma boa para mim. Comecei deletando algumas pessoas que não falavam comigo há mais de 1 ano, para ver quem sobrava. Incrivelmente, dos meus 555 “amigos” (sempre coloco entre aspas porque sabe-se lá se são amigos mesmo), eu converso com a maioria. Nem que seja uma cutucada, para quando não se tem o que dizer. Sim, converso, mas não sei se está gordo, magro, feliz, triste, se precisa de um abraço ou se apenas quer trocar uma ideia mesmo. Não sei se lhe cai uma lágrima quando conversamos, não sei se seus olhos brilham ao falar comigo, ou se me faz cara de desprezo. Não sei nem se é ele mesmo do outro lado da tela! Quanta distância, apesar da “amizade”!

Particularmente uso meu perfil para a causa animal. Sempre compartilho pedidos de adoção, feirinhas, mutirões de castração, tentando conscientizar os “amigos” da importância dos bichinhos em nossas vidas e da problemática dos animais abandonados em nosso país. Quando vejo, um pagou uma grana por um dog especial, outro comprou um pit bull, outro exige que o animal tenha as patas brancas. E eu falando com as paredes? Não sei até que ponto as pessoas prestam atenção no que escrevo no face, não sei se elas dão risada da minha cara, mesmo porque só poderiam fazer isso atrás de uma tela se quiserem manter os dentes intactos. Falar com as pessoas assim, de forma virtual, não tem me feito bem. Eu preciso olhar nos olhos da pessoa pra falar com ela, e, assim, ver se estou sendo útil, ou não. Se o que estou falando lhe é interessante ou se desdenha de mim. Sinto o peso do ponto de interrogação em minha cabeça.

Quantas vezes sinto uma absurda vontade de voltar no tempo ( uns 20 anos), na época que não havia redes sociais e celular era, ainda, coisa de rico. Pra conversar com minha melhor amiga, que também era minha vizinha, eu subia as escadas, batia na porta, ela saía e nós ficávamos conversando na escada do prédio até tarde. Ou ouvia as risadas dela de verdade (e não esse kkkkk horroroso). Eu via e enxugava caso caísse alguma lágrima de seu rosto. Eu a abraçava forte para lhe mostrar o quanto era importante pra mim ( o que é isso \00/ ???). Eu sentia que diante de mim havia um ser humano. Hoje eu vejo uma tela de computador e emoticons que não me dizem nada.

Sinto falta de coisas simples. No ano passado, no dia do meu aniversário, todos os parabéns foram virtuais, uma enxurrada de desejos bonitos e, até acredito, verdadeiros. Mas de todos os 555 amigos, incluindo familiares e pessoas bem próximas, apenas 1 me telefonou. Uma pessoa que mora em outro Estado e que, via ligação interurbana para celular, me desejou em alto e bom som uma vida cheia de sucesso e saúde. Apenas UMA PESSOA me telefonou, o restante mandou recado pelo face. Isso me fez pensar muito. Será que se eu não estivesse no mundo virtual, alguém poderia vir em casa pessoalmente me dar um abraço de aniversário?

Quero contato físico. Quero pegar na sua mão. Quero mexer no seu cabelo. Quero reparar no branco dos seus olhos. Quero entender sua expressão corporal. Quero sentir seu perfume. Quero ouvir um batimento cardíaco.

Eu adoraria reunir todos os meus 555 amigos facebookianos, fisicamente, em um único lugar. Mas se eu criar um “evento”, muitos confirmarão participação, mas poucos irão, como sempre acontece. Os que forem, não vão largar de seus iPhones, à espera do próximo aviso sonoro. Pareço uma velha reclamando? Não, não. Sou jornalista, tenho 34 anos, já atuei em emissoras de rádio e outros campos do jornalismo, sempre necessitando da tecnologia para cumprir meu trabalho. Mas eu daria tudo para estar agora em 23 de novembro de 1993.