Precisamos de um novo Igor Stravinsky

O compositor russo Igor Stravinsky (1882 - 1971), considerado uma das pessoas mais influentes do século XX, foi realmente um delicioso contraventor de sua época. É dele a composição A Sagração da Primavera (1912), que subverteu a estética musical para sempre.

A música fez parte de um balé, idealizado pelo também russo Vaslav Nijinsky. O espetáculo narrava a trajetória de uma garota marcada para ser entregue como oferta à divindade primaveril, no auge de um ritual pagão, com o objetivo de conquistar para seu povo uma colheita proveitosa.

A composição de Stravinsky revolucionou a cena musical que se conhecia até então. Ritmo, estrutura orquestral, timbre, aspectos harmônicos, a maneira como se utilizavam as dissonâncias, tudo foi inovador, nunca se tinha visto nada igual até então.

A peça escandalizou a sociedade francesa! O público não sabia como assimilar tantas mudanças e subversões, não estava preparado para recepcionar positivamente esta nova estética.

Vaias intensas e um caos se instaurou na platéia. Houve briga. Diversos músicos e maestros se retiraram do teatro logo no começo da representação, revoltados com a nova abordagem dos instrumentos.

Stravinsky já se adiantava ao mundo moderno: optou pela desconstrução do que se tinha até o momento, a necessidade de ruptura do modelo musical vigente, renunciando à lógica e desafiando o público com algo novo.

Aliás, tudo que é novo gera desconforto nas pessoas. Quem não se lembra do episódio do cantor Sergio Ricardo quebrando o violão na final do festival de Música Brasileira da TV Record, em 1967, e arremessando-o ao público, irritado com as ininterruptas vaias à sua canção Beto Bom de Bola? 

Concluo desejando o aparecimento de um novo Stravinsky no mundo. Uma nova pessoa que arrebente com os paradigmas musicais que existem, que invente algo revolucionário, um som que deixe as pessoas pasmadas, que dê uma reviravolta na cena musical do planeta. Talvez um instrumento novo? Talvez uma melodia orbital, uma canção marciana, uma MPB raivosa, um rock onírico, um jazz flutuante. Sei lá! Inventem algo que ainda não exista, se isto for possível.

Nossos ouvidos precisam de oxigenação. A música precisa se reinventar, com urgência.

Boa sorte a nós.

Enquanto isso, fiquem com A Sagração da Primavera.